Da coragem de viver e de amar
Que é que faço agora
Que já não há mais assunto
Nada para a gente estar junto
Nenhuma prestação de serviço
Tudo foi feito
Todos os trâmites
Todos os ritos
Licenças, emails, recibos, chamadas
Ligações urgentes simplesmente inventadas
Tudo, tudo liquidado
Contrato cumprido...
Apenas que este olho comprido
Faz-me entrever o mundo que vislumbro
De pequenos e grandes sentimentos
Que pulsam, intensos e compassados
Quando na presença um do outro
Ambos cada vez mais contidos
Ambos cada vez mais sumidos
E esmaecidos na paisagem
Para não transbordar, talvez
Um rio represado que corre pelas bocas
Em silêncio e calma
Um mundo cada vez mais palpável
Um rio cada vez mais caudaloso
Cujo rumor das águas
Roça suas margens como rudes carícias

II

Que é que faço agora
Sem motivos para ir a ti
Sem desculpas para me aproximar
Com subterfúgios fugidios, meias palavras
Explicações as mais desnecessárias...
Que é que faço agora, digas?!
Mediante tua boca que se cala
Sóbria e altiva
Lábios mudos ao apelo que a intriga
E, ainda assim, em mim
Independentemente de tudo
À parte o tempo que me consome
(Tu que vens à vida/ Eu que dela me vou...)
A luz dos olhos teus
É companhia doce que me acolhe
Para pequenos momentos de grande delicadeza
Fotografias em sépia da natureza onde pairo satisfeito
Abraços que entregam o corpo à dança do afeto
Palavras poucas que me dizem muito
Sentimentos tantos
Em um pequeno frasco de experiências concedidas
(Sem excessos, todavia)

Que é que faço agora?
Ora, não faço nada, ora!
Que fazer?
Apenas sinto, sinto, sinto...
A iminência de tua compreensão
Para essa amizade que nos excede e extrapola
E, ainda assim, pode perfeitamente
Estar contida em nós
Viva em nós
Como a expressão da nossa coragem
De viver e de amar...


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