O macaco adicto
O esgotar dos dias
À frente da tevê
Atrás de um monte de contas
Às voltas com a falta de dinheiro
À espera de milagre
O escoar do tempo
Sem perspectivas de mudança
Apenas rugas que se acentuam
Rotinas vãs, repetidas ad nauseam
Trabalho-casa-casa-trabalho

O escorrer das horas
À frente do computador
Na fila do banco
No caixa do supermercado
No ônibus, trem, metrô

Foi-se uma vida, ceifada
Tímido botão, despetalado
Rosa pálida, no pálio vácuo
Morremos, sem saber que vivíamos

Planos econômicos
Regimes cambiais
Misérias, fomes, pestes
Céus sucessivos que desabam
E um Deus apático
Contempla o descrédito humano

Devastações, rios que secam
Peixes extintos, aves precárias
Desertos que marcham para as cidades
Famintos que sonham com charutos
Gente sem pátria na Palestina
Homens do sapato-bomba
Estados terroristas

O planeta prostra-se, em desânimo
Sorrisos ensaiam o que pode ser a alegria
Dormimos todos macambúzios,
                        [como a Europa
Mesmo com a América na vertigem
                        [de seus dias
O mundo se cansa de si mesmo
De seu redemoinho
Repetem-se, os homens repetem-se
Sem se saber inventar ao caminho

Drogas de todo tipo
Relações preponderantemente de uso
Armas, armas e mais armas - tiros no escuro
O sol encoberto por fumaças
A lua caída em desgraça
O mar à beira do abismo

Por que nos matamos, se já não estamos tão vivos
                        [Eis a pergunta que cala
Em um coração que não fala, no peito dos aflitos
Euforia! Apostasia! Aporia!
O homem, este macaco adicto
Sente falta de tudo
                        [que por si só poderia...



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