Dorsal
Agora, que não te quero mais
Aviso-te, arder tu vais
No fogo do mesmo inferno,
O da paixão, onde padeci
Por estes malditos e longos anos
Prepara-te, pois, mulher
Para o que é do humano
Demasiado humano

Agora, que meu desejo te olha
E vejo que nascia esta paixão caolha
Do ardil de teu desprezo, e liberto
                        [deste caixão
De humilhações, desapreço, colhe
O meu coração o molho de rosas possíveis
Que, ao que parece, mereço
Prepara-te, pois, mulher
Para pagar o preço
Alto, demasiado alto
De teu afeto pelo avesso

Agora, que não mais te quero
Suporta, só, o que de ti não mais espero
Igualmente, e quando incendiares
A tua mente com as imagens flamejantes
De meu corpo, debruçada em sonhos,
                        [O que é pouco,
Prepara-te, pois, mulher
Para os assombros medonhos
Demasiado medonhos
Do que não se tem quanto mais se quer

Agora, que para ti olha o meu desejo
Indiferente, refeito da noite de seus
Andrajos, farrapos e negros lampejos
Em céu de ânsia pura e macabra
Prepara-te, pois, mulher
Para horas de igual, infame
Sofrimento, incompreensões raras, reclames
Do que é espanto, e é tormento
Onde, felizmente, não mais me contorço
E lembra-te! Lembra-te!
Quanto maior a frente
Maior o dorso...

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