Passos de dança sobre o abismo

 

Quantas vidas têm um projeto
Quantas, uma ambição a mais que o próprio bem-estar
E uma grandeza qualquer
Perceptível nas suas escolhas
E que desenham um trajeto no aro do tempo?

Poucas, muito poucas...

Tão poucas que podemos renunciar conhecê-las
Sem prejuízo do óbvio
Terá sido o esperado
Passar por aqui sem se encontrar com elas
Despercebidamente cruzar por elas
Em meio ao furor das evidências...
Profusão de fatos fúteis, fátuos
Que despencam sobre nós no universo diário
Como pequenas tempestades cósmicas
De asteróides estéreis...
Zunido... zumbido... ruído... grunhido...
Decibéis imbecis de tolices atordoantes
Desestabilizantes e doces

Tudo isto para adiar a glória do si-mesmo
Aquele que se vê a si em meio ao caos
E assim, com modéstia, explica seu próprio torvelinho
Aceita-o
Como a condição essencial
Para sorrir com consciência
Sem esgar
Ou histeria...

Quantas vidas
Detectam os próprios automatismos, condicionamentos
Quantas reconhecem o discurso com que se escondem de si
A toldar o sol brilhante do ser
Pronto a fulgir ao peito (ao menor descuido!)
Para iluminar o mundo
E aquecer os corações à sua roda?

Poucas, muito poucas...

Mas, o fato de existirem estas vidas
A despeito mesmo de não serem vistas
Ainda assim, sinto, inspiram-nos a nós, caminhantes do caos
A possibilidade de um passo de dança sobre o abismo
Tal modo abraçá-lo
Mais que mirá-lo
Tal modo flanar em sua presença
Como um convite à compaixão, à invenção, à inovação, à entrega
E o que mais nos ajude a sobreviver a nós mesmos
Na manhã do dia seguinte...


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