vivo do que não existe: esperanças passadas lembranças entrevadas sentimentos que já não funcionam alimento com este óleo velho o motor de minhas emoções como fosse possível renascer das trevas o corpo para sempre encerrado como viesse do pó a vida de todo ausente sonho renascimentos espero por arrependimentos (gente que me maltratou em vão, por exemplo) creio no furor do remorso e a remissão pela culpa em suma, vou embrulhado em mortalhas enquanto a vida, com seu mel, escapa-me dos lábios, fruição aleatória, desejo indeterminado... apego-me aos meus apegos: gente que julguei melhor do que na verdade era feições que melhorei com o cinzel do afeto tudo bobagem, desperdício interno bruto eu me canso de mentir a mim e aceito a natureza humana como sendo a broa aos farelos no balcão de vidro da padaria esqueço, esqueço recordo-me, apenas, da necessidade imperiosa de esquecer, esquecer tudo as melhores lembranças as piores esperanças, que são justamente aquelas sem qualquer chance de acontecer