Para acabar de vez com o julgamento do outro
não me ocupo mais
de julgar a ninguém
no bojo desta antiga feldade
havia uma intenção de bondade
de todo tola e mais vazia
pois em minha fantasia
invenção de realidade
eu, destarte, me preocupava
com o outro, aquele alguém
sob meu fogo cruzado
sob a mira
sob o crivo
de terrível inquirição
onde, então, indagava
da vontade e do possível
misturados na estrada
do improvável ao factível...
a pergunta, eu guardava
a resposta, eu ouvia
e o que o outro me dizia
era para mim a lei - e mais nada
aos poucos, porém, percebi
era lei esfarrapada
letra morta e acabada
sem passado nem porvir
o que o outro me dizia
eu, aos poucos, percebi
vivia sendo mudado
de acordo com cada momento
o que julgava, caía
o que pensava, sumia
o que olhava, já não via
ao final do movimento
era inútil insistir...
foi assim que desisti
de julgar a qualquer um:
tudo é normal, tudo chinfrim
viver é tão fatal
quanto morrer é vital
o que penso do outro é tão banal
quanto o que pensam de mim

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