Solidão de ferro

(Ao professor Benedito Nunes)

 

solidão de ferro
alimento-me de fruta-pão
migalhas, limalhas
devoro a mim mesmo
contudo não transmudo
de dromedário em leão
solidão extrema
extrema a solidão
rumino, jejuo no deserto
bebo cactus, flores duras
concebo a pureza impura
sem distingüir o erro certo
do acerto sem unção
solidão extrema!
recorro ao trema
minha voz é muda
mudos meus muitos mundos são
e eu, são em minha loucura,
procuro pelo que não encontro:
a alegria ingênua e nua
de meu sexo barroco,
descomplexa emoção
solidão de ferro!
erro, erro, erro - de grão em grão
áspero, exaspero-me
esfrego a cara no chão
fatigado, sucumbo no deserto
dorme meu corpo outrora desperto
por tempestades de areia,
ventos noturnos, nuctúrias, turbilhão!
descaio, caio-me, desespero:
a esperança é propriamente o desespero
de quem espera ser o tempo,
raiz e flor de sua própria criação


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