O que exprimo É apenas metade da noite Que não dorme em mim Habituei-me ao fracasso Uma vida feita de não e talvez Sei mover-me por entre Choros cansados, reclamos Almas ressabiadas que cantam Conheço todos os sinais da amargura Palavras que lançam o mundo Ao chão, gestos que espanam A glória alheia, diminuições Envergonhadas Sei tudo acerca de ser duro Anatomia de um bolso vazio Arquitetura de um coração trancado Há no fracasso alguma sabedoria, É fato, porém, mesmo o rato Molhado no interior das manilhas Pede um raio de sol, sonha O frescor tépido das manhãs, Bafo ameno dos dias Que sopra por todas as criaturas Ali, à beira-rio, Onde antes era relva e agora Agora muro frio de cimento cinza Um roedor espreita o brilho da luz Solitário, esboça um sorriso: No mais baixo da auto-estima Também a alegria da vida