O que me deste Senão a sombra de tua presença Afastando-se sempre e sempre de mim O que me deste Senão um buquê de canções Que eu mesmo compus na dor de tua ausência O que me deste Senão a recusa de me ter E se entregar inteira A um amor capaz de reinventar dois mundos O que me deste Senão certa ignorância das coisas da vida Misto de ingenuidade e amor próprio Capaz de te proteger da dor alheia Por simplesmente rir-se dela Ou afastar-se dela, mesmo que tua dor também O que me deste Eu me pergunto Quando penso no quanto te amei Sem nada pedir ou querer Senão a tua presença De todo fugidia e arisca Incapaz do convívio, da palavra Do sorriso Da brincadeira, do gozo Da vida, a vida, enfim Que se guarda e mostra Por trás do sentimento de amor O que me deste, afinal Senão a esperança de saber amar Mesmo sem ser amado E a certeza de que era, sim Capaz de me dar sem medidas Despido e indefeso Entregue ao sol Sem resposta nem porquê...
Tudo me deste, portanto! Além do canto, o alento E forçaste-me o talento a compreender Que a mulher que amei Jamais, jamais existiu Senão em meu próprio coração de criança Insistente, pidão, despudorado... E que, lá, ainda hoje, ela se encontra Linda como tu! Virgem de realidades À espera de que minhas mãos saibam tocá-la Pronta para os meus beijos Nua para os meus braços Amiga dos meus versos Companheira do meus dias A mulher dos meus sonhos...