Minha vontade se perdeu de mim Em algum ponto, o desejo recusa a si mesmo Olho para as coisas como elas igualmente me olham: Sem vontade de me ter Ou entrar demasiadamente em contato As palavras não me chegam ao chão da boca E quando vêm, afogam-se no vau seco de saliva Banho-me na poeira Nada digo Morro quieto todos os dias São muitos os que me objetam Também não tenho ânimo para lutar por direitos Ignoro direitos Tudo que me ocorre é o cansaço Extenuado, exangüe, sonho o charco e o lírio Quero a brisa Penso o sol sem camisa Os pés descalços na terra Tudo que me ocorre É o beijo na face dos filhos - amores desnudos Dizer-lhes com os olhos da minha estupefação: Por favor, não se matem! Deixem doer! Sobrevivam com alma! Não é fácil estar vivo desde a sola dos pés Até a medula Pesquem algo que está no ar Para além das partículas vazadas de luzSigo com as horas O coração arrancado Nada que disser Nada vai mudar Apenas declaro meu entendimento Quanto à importância essencial do amor Saibam os que possam Mais nada Nenhuma intenção afirmada Nenhum juízo Nenhuma determinação Como o vento, vou sendo varrido Atravessado por gerúndios infames E outras fomes Vou morrendo sem dar a Pedro o que é de Pedro Nem a Judas o que é de Judas Sigo sem afirmações Nem julgamentos Só em meu caminho Entendo, então, que a multidão também vai só E sofro por isto à beira do abismo Sua dor é minha dor Seu medo é o meu medo Mas, quanto aos seus sonhos Eles nada têm a ver comigo Não sonho Imagino Imaginar é renunciar aos sonhos Troco os céus por minhas pobres mãos E obro e vou... triste e feliz... Uma coisa é a palavra dita Outra coisa é a palavra viva