(para Irapuan Guimarães)
somos poemas
que se escrevem
vidas que se vão anotando
sem gerúndios, umas
outras, no particípio
do fato consumado
somos versos, trovas
a vez hai kais descaídos
outras vezes sonetos em prosa
quadras, tercetos mais ou menos bonitos
não importa, somos
enquanto estamos vivos
vamos tecendo a teia
como o fio da palavra
que a aranha esquece
somos loucos
somos bobos
somos tibios
somos homens
que aos rios do inferno descem
e de lá escapam, justamente, por um fio:
aquele que a palavra tece
somos poemas que se escrevem
vidas que se vão anotando,
pura carne e alegoria
sempre que não somos contingentes
como os poetas, somos gente a escrever
com o corpo a própria poesia