Ego cego

Você se foi
E continuo aqui, prisioneiro do ego
Os olhos cerrados sobre o próprio umbigo
Incapaz de vislumbrar a luz do mundo

O mais perto que consigo chegar desse mundo
É ainda por palavras eivadas de culpa e por canções desesperadas
Não toco o outro, propriamente
Apenas, aliso sua sombra
Com estas mãos nuas de carinho

Você se foi
E todo o sentimento não escapa ao labirinto de mim mesmo
Minotauro glutão que me devora as entranhas
Paralisa os movimentos
Retira a cor dos dias

O egoísmo, menos que traço de personalidade
É uma infelicidade do caráter que desaba sobre o ser
Com a força avassaladora da inércia

Vou aos jornais
Em busca de distração para meus impasses
Ali, nada encontro, senão o silêncio acerca de quem sou
Produzo opiniões avulsas
Conclusões apressadas
Reitero a própria inconsistência
Enquanto o tempo escoa, inexorável
Na direção do pior de mim

Resta-me o seu amor
E o amor que lhe tive
O amor onde estive pleno e sem explicações
O amor também onde falhei irremediavelmente
O amor trivial, relapso, acomodatício
Certo de jamais perdê-lo

Você se foi
E este cego tateia ainda as paredes da caverna


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