Inferno interior

Somos seres contraditórios
É preciso admiti-lo
Com brandura
Olhar o inferno interior
Feito, entre outras enormidades, de pequenas e distraídas atitudes
Geralmente sem nenhuma importância para nós mesmos
Mas que ferem abundantemente o outro (e, por conseguinte, a nós também nos ferem)
Sem que sejamos capazes de compreender como toda essa estranha química dos afetos funciona
Enquanto o presente nos devora como bactérias famintas

Olhar o inferno
Sentir-se em meio dele
Sem medo do que vê
Com calma, examinar suas labaredas
(A urgência como tudo acontece, mais que rematada evasão, é antes um desesperado pedido de clemência para que se possa estancar e tocar e conhecer a natureza dos próprios sentimentos)
O que nos explica aquilo que somos?
O que sentimos
Por que o sentimos
Onde estão, senão no pântano do medo ou no deserto da indiferença ou na aridez da solidão
As respostas mínimas que buscamos
Senão para entender a vida, missão impossível
Ao menos para suportar o seu fardo
Com mansidão, solidariedade
Imaginação, ousadia
Alegria...

Há que descer o Archeonte
Cruzar o Hades
Admitir que viemos das sombras para a luz
E aí queremos permanecer
Acolhidos, amados
Pois há em nosso íntimo um vislumbre inconfundível do céu


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