Paixão e pensamento

em silêncio
caminha um homem
em busca de seu reconhecimento
exerce-se nas sombras
à margem, pelos cantos e frestas
onde escapa sua luz
facho fugidio;
não recebe o afago casual
de um encontro,
encontra-se em um casulo
remendando a meia cerzida em sonhos
puída em solidões, desenganos,
ilusões, amores de pano
que o tempo arruína
como aos nossos ossos;
deste casulo divisa
uma possibilidade de afeto
que não se enclausure
e do mundo se exclua;
uma possibilidade de afeto
um amor, por assim dizer,
mais redenção do que crise
mais amigo que senhor
mais amante, menos servil
um amor atravessado de prazer e beleza,
suave brisa que percorre as costas, diariamente
variável e finito em sua manifestação
inflexível e perene em sua essência...
em silêncio, um homem caminha
em busca de si mesmo
por entre pistas falsas
lembranças transversas
desejos tergiversados
impotentes para fazer
luzir o sol em seu peito
com delicada claridade,
manhã de luz tépida,
preguiça, vagar,
um tempo em sépia
a produzir memórias
de um mundo imaginado;
esta luz abafada
este fastio do nada
este 'silêncio ensurdecedor' aos ouvidos!...
um amor franzino e covarde
cola-se à pele do homem irreconhecido
a quem se nega identidade, alteridade, semelhança:
invisível, homem algum ama
e sem amor, nenhum pensamento é possíve


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