O poeta que não rima
Depois do expediente
Eu doente de mim mesmo
Corro a esmo ao caderno
E deito, sempiterno
Mais um verso de ocasião
Canto louvores
Sopro loas
A poesia boa vem do coração
Cantarei a esposa amada
A amante malvada
E os filhos que meu futuro são
Doente de mim mesmo
Canto o coração dormente, adormecido
Depois do expediente
Sou tudo aquilo que gostaria de ter sido
Ótimo pai
Grande marido
Ocupado, porém, estava
Com a lida, a faina
A paina das polainas e das gravatas
(Ôpa, rima interna não tem graça!
Seja explícito! Como explícito é o queixume
                         [em sua cara)
Depois do expediente
Sou decente comigo
Recorrente
Intermitente
Caro amigo
Generoso
Promovo jograis, orgulhoso
De meus vínculos com o espírito
Guardo um último suspiro
Para o eventual gozo
Originário da cantata
Uma sirigaita desavisada
Para um verso inconseqüente
Como estes
Que escrevo depois do expediente

É mais fácil fazer versos com a própria sina
A suportar a condição abjeta do poeta
Que não rima

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