Mãe na unidade coronariana
não é só meu coração
que te alcança,
mas também meu espírito,
no interior deste recinto;
em meu íntimo,
um olhar vigilante
percorre não só teu sofrimento,
mas também tua esperança
                        [de saúde em nosso convívio;
mais que o filho desamparado
ante a agonia da mãe,
é o teu amigo
de palavras pouco escolhidas
e temperamento tíbio
quem se fortalece com tua luta e fibra;

sonho trazer-te a casa
e rezo a Deus poder fazê-lo,
logo eu, de Deus tão distante
                        [por erros prolongados...
rogo o perdão de que sou falto
sem que aceitação me falte
                        [aos versos do destino
contudo, vigia meu olho
a tua vigília, teu coração fraquinho
meu menino reincidente
insiste em lágrimas
                        - que, sabe-se, são preces
e não me faltam joelhos...
quero rever-te sem tubos nem aparelhos
acariciar-te os cabelos
e dizer ó mãe, ó mãe!
ainda temos um minuto
todos os meus desencontros
erros, todos meus erros
nada disso é bastante
para calar meus apelos
reinam em mim esperanças
por graves que sejam as noites
ninguém morre de véspera
                        - tu mesma ensinaste
acesas estão as velas
e luzes do meu cruzeiro
sonho de novo um abraço
um beijo pela janela
de novo uma nova chance
de comunicar este amor
amor por vezes tão rude
eu, um burro de alma
                        [a quem não se cortou a pata
amor por vezes calado
silente em seu mergulho
vigio-te com modesto orgulho
por tudo que me ensinaste
e o pouco que aprendi
mergulho nesta dor
não como o náufrago que há no órfão
mas, antes, o escafandrista
que recupera um tesouro esquecido
vigio-te noite e dia
com os olhos de um amor
que não pode ser repreendido



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