20 de julho de 2024 às 00:00
Caixa de Pandora
o tempo todo que te quis
com estulta pureza
disseste não ao sentimento
tu te negaste a ver no meu gozo
uma delicadeza, um ventre que se abre
ao amanhecer penumbroso
o tempo todo que te quis
com meu encantamento
tu me disseste não ao instinto
e ao momento
...
e quando, ao cabo da decepção vivida,
eu te desejei tão somente por vingança
para registro apenas na cadernetinha
vil coleção de corpos vilipendiados
sem o mínimo consolo
apenas exercício de desfaçatez e gozo
quinhão meu de desumanidade minha
lista tenebrosa de perfumes vários
quando, depois de tudo e do teu nada,
eu te atrai ao vau da armadilha
tu me entregaste, aberta, a caixa de Pandora
para vará-la inteira e ao varal dependurada
foste como todas, na estrada
foste a carne apenas devorada
a caça, a presa perseguida
com que o predador sacia a fome
sem deixar de ser por um segundo
o assassino pleno satisfeito...
que se mata a cada vez que vence o mundo
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