31 de julho de 2024 às 16:00
Pão de nuvem
Há tanto trabalho disponível quanto mais fazemos arte, mesmo que não seja da melhor qualidade, há tanta energia afirmativa envolvida, não obstante nossas obscuridades, que valeria a pena a política pensar a respeito; não como o tem feito, até aqui, com máximo desprezo e incompreensão; a percepção cada vez mais patente, em nossos dias, de um processo violentamente desagregador de personalidade individual em marcha no mundo, sinal explícito de ensandecimento da espécie, ou sua mutação em autistas hightech, torna inevitável uma reflexão sobre o papel estratégico da arte, em busca de um equilíbrio razoável para o ecosistema, inteiramente abalado.
Nenhum esforço é pouco ou de somenos importância no sentido de fazer ver ao conjunto da espécie a urgência de uma compreensão das conseqüências globais de ações isoladas, apenas esta convicção profunda de nossa interdependência pode despertar uma atenção real para tudo que interessa à vida.
Esta é uma decisão que nos cabe individualmente, mas da qual depende o planeta para sua sobrevivência. Tocamos os primeiros níveis de saturação do habitat, situação inteiramente nova para o homem, esta é uma circunstância sem registro na memória coletiva. Imprimimos as primeiras impressões a respeito a menos de meio-século, é uma novidade completa, na qual não acreditamos ainda o suficiente. Em nossos corações, não estamos bem certos de que toda a suposta degração do meio-ambiente esteja mesmo ocorrendo. No fundo, gostaríamos de estar enganados ou de estar sendo enganados quanto a este assunto e todo esforço em esclarecê-lo é válido e útil.
Não só as agressões ambientais estão entenebrecendo o habitat, também o que produz o nosso pensamento, somos fruto do que pensamos e de como o pensamos, o que condiciona o sentimento, os sentidos, a própria percepção da realidade, a paisagem mental de um indivíduo é a planície onde erra no vasto ou a gruta onde se guarda à intempérie ou a montanha por onde atalha o céu a saborear seu pão de nuvem.