05 de agosto de 2024 às 00:00
Anatomia do fracasso
é pele são dentes
e um passado inconsistente,
       [que lateja
um corpo em pânico
       [ que na solidão deseja
são palavras ásperas
atiradas ao vento
com a funda elástica
da maledicência
pedras que retornam sempre
com o tempo bumerangue
é o sangue estagnado
é a água parada de um convento
é o medo do mundo
e seu contratempo
é a docilidade fingida
e o fingimento
é a tinta dos cabelos perdida
e o seu tingimento
é uma dor lacerada, é um dó
que dói, um bicho carpinteiro
que ao corpo inteiro corrói, é o pó
é a ânsia a ganância
a ambição desmedida
de ser grande ao ser pequeno
é o defeito ingênuo da preguiça
é o próprio veneno
um corpo que cai
o medo que vai - crescendo
é a lua escarlate do desejo
é a inveja
é a maldade num lampejo
é a refrega
afetos partidos memória
de imemorial lembrança
é o sonho e a sanha
é a idéia desesperada,
       [ que dança
é a ânsia é a ânsia
sobretudo é a ânsia
que num engodo desanda
é a perda da esperança
precipitação vertigem
é a miragem perdida
e uma inteligência doída
é a loucura,
       [ que avança
é a pressa medonha
a tortura tristonha
a despedida
voz que ricocheteia no eco
o mistério da partida
é o beco é o beco
a fuga sem saída
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