06 de agosto de 2024 às 00:00
Catavento

(para papai)

 

quando estávamos juntos
parecia que tudo impunhas
no fundo, nada impunhas
senão a tua presença

por vezes, alegre e lassa
por vezes, triste e rígida
por vezes, presença ausente
por vezes, ausência presente

teu maior segredo, a naturalidade
diante do fato da morte
inevitável trivialidade
que devora a senzala e a corte

seguias ocupado ao destino
inexorável, inelutável
de deixar de ser menino
e vir a ser o inescrutável

nossos presentes se pareciam
definitivos, obras eternas
da memória do coração
a girar no catavento
de sentimentos, hoje, desvanecidos

eu o queria tão bem
tão bem eu o queria
que querê-lo mais era impossível

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