21 de agosto de 2024 às 00:00
Corpo místico (ou Bicho carpinteiro)
Tantos de mim partiram-se
Estilhaços no chão da casa
Pedaços insones na noite
Um violão calado
Palco vazio às escuras
Filmes velados
Restos de mim em sonhos
Planos para sempre adiados
Caos, sabor de derrota
Profusão de desejos roubados
Tantos de mim no lixo
Outros de mim em coma
Sono de gente esquecida
Versos para sempre quebrados
Fui jovem como a manhã radiante
Moço como sol de meio-dia
Deito-me agora na tarde
Quando a noite já se prenuncia
Ânsias ainda muitas
Golfam-me a imaginação
Quero agir, não tenho mãos
Correr não posso, sem pernas
Minhas palavras, asas que calam
Tento a tinta do poema
Aqui repouso de um cansaço ligeiro
Ainda procuro pelo verbo
Que refaça meu corpo inteiro