As gravações foram marcadas por dois episódios curiosos. Reduzida a equipe a nós três — Junior, diretor, Serginho, diretor de fotografia e operador de câmera, e eu de ator — dirigimo-nos ao local já previamente determinado para as tomadas e onde, desde a ida anterior, já havíamos nos encontrado com o gado que por ali pasta habitualmente, o que significa dizer que gravamos dentro da propriedade de alguém. Não foi diferente durante as gravações. Ora esperávamos que algumas cabeças cruzassem displicentemente o set, outras vezes, era preciso mesmo espantá-las e assim foi durante toda aquela esplendorosa manhã de sol em que lá estivemos, ao pé dos Três Picos.
As tomadas não eram muitas nem complicadas, porém, em cinema, como se sabe, tudo se repete à exaustão, mesmo quando o ator não entende o porque de tudo aquilo. Com o diretor não é diferente em sua meticulosidade. Nem com o Serginho, também obcecado pelo melhor ângulo, a melhor luz etc. Caras enjoados! (Risos)
O resultado foi que lá para uma hora da tarde, mais ou menos, olhei para o Sergio, assustado, e disse-lhe:
Cara, vc está parecendo um pimentão! Pimentão vermelho, note bem.
Ao que ele, rindo, retrucou:
E você também!
Em seguida, olhamos os dois para o diretor e seus óculos escuros de sobrepor às lentes brancas. Reparamos que ele continuava com sua pele extremamente alva intacta e nos perguntamos como era possível, debaixo daquela “lua”...
Filtro solar, meus caros, simples... Ele respondeu, sem deboche, mas com algum espanto diante da nossa imprevidência. Fazia sentido. Pessoas desavisadas como eu nunca acham que o sol de serra tem essa letalidade toda que já se espera habitualmente do sol nas praias... Mas, tem. E Serginho e eu, dois branquelos azedos, éramos, naquele instante, a prova viva dessa incúria. E o diretor... ria...