Para minha alegria, a presença de Marcio Mallard estende-se para o diálogo com o violão do Caio e o piano do Cristovão em Coast to coast, meu modesto “estudo de terça”, conforme o definiu o mestre violoncelista, e também em Noites sem fim,fundamentando assim um dos melhores momentos acústicos desse trabalho.
Acompanhar as gravações do Marcio é uma lição de profissionalismo e arte: idiossincrático e ao mesmo tempo paciente e muito bem-humorado, de um humor cáustico, é verdade. Ele lê, relê frase a frase, respira, consulta o arranjo e o arranjador, volta, ouve o take, grava outro take, mais outro e mais um. Incansável. A partitura não o convence de sua aparente simplicidade, nem com toda a sua experiência e bagagem; em tudo busca seu mistério, ranhuras, Deus escondido no âmbito do detalhe; o resultado é aquela luminosidade que se pode ver ao ouvir o deslizar de sua digitação incrivelmente suave, precisa, ao longo das escalas mudas de seu fantástico instrumento, ainda mais fantástico em suas mãos. Louvadas sejam!