Influências essenciais

O samba tem um lugar de honra no meu trabalho. Afinal, é uma linguagem que pratico desde a adolescência, e do modo mais natural. Mas, o meu samba, é preciso dizer, é um samba antigo, nostálgico, quadrado, reto, parado, até mesmo um tanto quanto paulistano (há demônios da garoa nele, eu acho!), e eu ficava me perguntando de onde ele vinha...

Este samba, concluí depois, remonta ao jongo, ao calango, mesmo à folia de reis e, pasme, à música sertaneja de Teixeirinha e Horizonte (um artista da minha cidade), não chega a ser um samba rural porque vivo há zilhanos no Rio, tomei muita cerveja e cantei muito pagode (nos tempos em que se chamava partido alto) em Osvaldo Cruz, Bangu, Vila Kennedy, Padre Miguel e arredores, aprendi a sambar, graças ao meu amigo Adilson Gomes, ao som da bateria de Mestre André, veja você... eu, um gringo brasileiro preto índio ‘goitacá’...

Por outro lado, fui criado no centro de Friburgo e suas escolas de samba, com sambas de enredo de ritmo mais cadenciado e dados a tom menor, de certa forma me serviram de referência; bem como o próprio Benito de Paula, meu conterrâneo, e seu samba, digamos assim, “apianado”, como também o batuque algo lamentoso do Martinho José Ferreira, da vizinha Duas Barras, tudo isso, penso, foi dando um tom ora suburbano, ora interiorano e, sobretudo, melancólico, outonal, ao samba que faço.

E que é, em suma, um samba de roça.

Não poderia, de forma alguma, ser injusto com tudo que me deram os discos de Paulinho da Viola, ouvidos obstinadamente ao longo de décadas, onde delicadeza e elegância se entrecruzam para formar um dos mais belos e inventivos cancioneiros do nosso samba.

Não obstante, seja eu homem do nevoeiro, do erro pai das experimentações.

Entretanto, nesse disco, são outros os compositores a quem cito, de fato: o primeiro é Caetano Veloso, nos versos finais de Nada além do sol, onde me refiro à Alegria, Alegria, e também no solo de flauta de Pedacinhos do céu, onde crio uma melodia transversal para alguns versos de Coração Vagabundo, leit motiv da letra; outros dois são Toquinho e Vinicius de Morais, em Oxalá meu pai, ocasião em  que homenageio a Meu pai Oxalá (até mesmo na inversão do título);  por fim, em Rogo white, é a vez de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, mestres dos mestres, de quem cito o refrão de O mundo melhor de Pixinguinha, um dos maiores sambas de enredo de todos os tempos, sem a menor sombra de dúvida.

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