A letra baseou-se quase que inteiramente nas informações do folheto de captação de doações que recebi no meu endereço, na primavera de 2008.

Em sua melodia, busquei uma aproximação com a forma do hino, pois reconheço algo de épico e grandioso – que os hinos procuram enfatizar – no trabalho quotidiano e anônimo desses heróis modernos que são os Médicos Sem Fronteiras.

Essa busca do épico contemporâneo levou-me ao trabalho do Pink Floyd, em The wall. Resolvi, então, incorporar algumas citações desse disco clássico do rock progressivo dos anos 1970 à composição.

As atividades de Médicos Sem Fronteiras, por outro lado, estão grandemente concentradas na África, continente cuja cultura musical guarda estreitas relações com a música brasileira, particularmente no tocante ao ritmo e ao uso da percussão – assim, introduzi um quarteto de couros (alfaia, tumbadora, pandeiro e tamborim) para expressar os vínculos da música com o continente-mãe da raça humana.

Na hora de estabelecer o conceito do arranjo, optei por citar passagens do Choros nº 6 de Villa-Lobos e igualmente utilizar um fragmento do tema de Canta, canta mais, de Tom Jobim e Vinicius de Morais, como referência para o grand-finale da canção, que a essa altura já possuía três partes e caminhava para se constituir em uma pequena peça que remonta ao pop sinfônico.

Essa estrutura em três partes – O muro, Sem fronteiras e Canta mais – levou-me a pensar numa quarta parte que reunisse as referências da composição e lhe servisse de Abertura. A partir dessa concepção, Anderson Erthal desenvolveu a orquestração que se pode ouvir nessa gravação, em interpretações inspiradas dos músicos e cantores convidados.

Quanto à fusão de diferentes referências musicais no corpo da obra, afora minha irrestrita admiração pelos compositores citados, expressa de certa forma uma disponibilidade característica da música e do músico brasileiros para assimilar e processar a diversidade de influências, sempre na perspectiva da nossa cultura aberta e flexível.

Um aspecto relevante desse projeto é o fato de ser executado quase que inteiramente por músicos de Nova Friburgo e região. Há uma atividade musical intensa e de muito bom nível no vale friburguense e arredores e os melhores aspectos do resultado final dessa etapa do trabalho devem ser creditados a isso. Erros e exageros são de inteira responsabilidade minha.

Uma menção especial deve ser feita aqui a duas instituições que me foram fundamentais para essa produção: a Sociedade Musical Euterpe Friburguense, a mais antiga banda sinfônica civil em atividade ininterrupta no país, desde 1863, onde fui buscar as vozes do coro adulto, a cargo do regente e tenor Ágni de Souza, e alguns dos instrumentistas convidados, caso de Gilney de Oliveira, que faz no trompete a citação do solo clássico de Another brick in the wall, do Pink Floyd; e também a Escola Superior de Música da Universidade Cândido Mendes, cujo campus friburguense criou condições favoráveis para o desenvolvimento de projetos musicais como esse. Foi no campus da UCAM que fui buscar parte de meus amigos e colaboradores para essa empreitada, caso do jovem quarteto de cordas [não tradicional] formado por Artur Pontes (violino), Bruno Marins (viola), Caíque Abbud (contrabaixo) e Jonathan Lima (violoncelo).

As gravações de Nós que amamos a vida começaram no dia 25 de março de 2009 no Midstudio e se estenderam até 24 de junho do mesmo ano, com passagens, ainda, pelo Estúdio Mateus Santos, também em Friburgo, e pelo estúdio Umuarama, nas Laranjeiras, Rio de Janeiro, onde registramos as vozes infantis de Lucas, Maria, Maurício, Rita e Tainá, do coral infantil da Escola de Música da Rocinha, sob a regência de Valéria Correia.

No processo de gravação contamos, também, com a engenharia de som de Gilson Wilbert, do Estúdio Pentatom, responsável pela captação direta do tímpano, na sede da Sociedade Musical Euterpe Friburguense (vez que ele não 'passava' pela porta de nenhum dos estúdios existentes na cidade). Lá realizamos a captação noturna do parrudo instrumento com o multinstrumentista Piter Toledo, entre um sinal fechado e outro que retinha o tráfego da barulhent avenida Euterpe e permitia-nos exatos quarenta segundos de silêncio.

Ainda no Pentatom, realizei a inserções de sons e ruídos incidentais que permeiam toda a peça, com destaque para os cantos dos pássaros típicos das Serra dos Órgãos. A mixagem, por sua vez, é assinada por Tiquinho Santos, do Midstudio.

Os bastidores das gravações, a cargo do diretor de fotografia Sérgio Martins, da AlfaÔmega Produções, e com edição de Ilson Junior, da Singularidade, deu origem à versão em vídeo da música, franqueada à direção nacional de Médicos Sem Fronteiras para ampla e irrestrita utilização por todo e qualquer meio na captação de recursos para a manutenção da entidade e de suas atividades humanitárias.



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