A teoria improvável do poema
A poesia fala
O que só confessaremos ao juízo final
Quando de todo perdidos e condenados:
Sim, era o que queria!
Era errado aos meus próprios olhos
No entanto, saltava de meu peito
Com encanto doce de bailarina
Sim, era tíbio!
Sim, era fraco!
Sim, era torto!
Todavia, nascia de mim
Com a luminosidade estupenda
Das manhãs amenas de inverno
Meu coração, entre serras,
Sorria, contagiado por sua própria alegria
Impulsionado e cálido como o cabrito montês
Na pastagem, angelical e estúpido
Era torpe, era doido!
Era impróprio, era vil!
Porém, viveu em mim com pureza abstrata
Cantou em mim como regatos cristalinos
Fez-me quente como beijo de sol

A poesia confessa
Essa mudez dos olhos
Flor no charco da alma
Esse medo de ser simples e pleno
E ouvir de todo o coração acuado
A poesia pergunta:
Por que o mundo acua tanto o coração solitário?
Não espera respostas
Nem possui respostas a poesia
A poesia conta
A poesia canta o que em si se cala
É a repetição da cabala
É a vociferação do mantra
A poesia é a arte do espanto
O instinto que evola aos prantos
Para supor algum sentido para além de sua torpeza
É o azul-turquesa nos olhos da menina
É a borboleta que o acaso em seu vôo ensina
É a sina, é a sina
De fazer a vida bela
Mesmo a vida cadela
A vida mesma peregrina
A poesia é o átimo da seqüela
De um desejo que por si se exprima

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