Peste
nado para fora do teu caos
tu não o crês
é um nado de nada, mínimo
um sopro ínfimo na lufada
como a razão que nasce
tenra e frágil em face da terra arrasada
meu nome é recomeço
pode me chamar de tudo de novo
nado para fora do teu nada
do meu desamparo, nasce a gota
da gota, a sede das águas
o que almejo está além
deste pescoço estrangulado
e essa fome abjeta
quero a mim e ter a mim
significa esquecer-te, seguir
na solidão infinita dos sem-resposta
significa, também, estar contigo
e, assim, permanecer só
avaro de encantamentotu não o crês,
tamanho escravo da paixão me tomas
porém, hoje eu sei, amar-me é possível
desarmar-me também
amar-me é um gesto pequeno
de carícia inefável ao espírito
tu me enredas e engolfas
como tsunamis que me calam e afogam
e eu calo e afogo em tua vaga
porém, não te iludas
não só meu pênis cresce com o desejo
também meu sentimento
cada vez mais cobiço mulheres
capazes de verdadeira amizade por homens
cada vez mais mulheres amigas do gozo
da aventura do pensamento
para fora de teu caos, então, eu tento
a braçada definitiva, o passo faltante
vou, diminuto, pouco, insignificante
somo dia a dia os tijolos de força
que me edificam, serei a morada de minhalma
em algum momento proximamente futuro
livre de teu vento e vulcão e muro
imune à morte que semeias com mãos secas
e à tua confusão imensa
pouco mais e vais por terra
e eu me vou para fora de teus braços
para longe de teus medos, dedos e regaço
pouco mais e chego ao aconchego de mim
donde ressurgir, aceso
como a luz que atravessa a escuridão da cela
e ilumina, quieta, o coração do preso

nado para fora de teus braços - é inconteste
mas, enquanto não saio... dá-me cá um abraço, peste!

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