Soneto da madureza I
O tempo passa ao largo — ao tempo que envelheço
A par do que é belo e triste em cada idade
Uma vantagem há — percebo, reconheço
Em coisas que nos chegam ao fim da mocidade
Não é que seja assim uma ciência oculta
Só acessível a nós quando ficamos velhos
Mas é que, com o tempo, o coração escuta
Sons mínimos, sutis, que aos poucos nos revelam
Os naipes de uma orquestra e seus timbres distintos
Inaudíveis de todo à juventude afoita
Que sonha seu prazer, persegue seu destino
A madureza ensina um truque pequenino:
Esconjuro a paixão que, covarde, me açoita
Menos me emociono e muito mais eu sinto