É difícil aceitar que somos nosso próprio insucesso
Inclusive, por coisas que nos excedem
E que nada podemos fazer
(nada é duro como o ferro essencial das estrelas)
Senão aceitar que nada podemos fazer
E, ao aceitá-lo, fazemos tudo que podemos
É difícil acreditar que também queremos morrer
Tanto quanto viver
(ou mais!)
E que, ao viver, de fato, morremos
Estamos presos, mesmo livres
E mesmo presos, algo em liberdade sobrevive
Morrer é também não viver
Recusar o movimento, imobilizar-se
Inerte, estático diante dos problemas da vida
Morrer é também um sentimento de desistir
Uma desistência, uma resistência a fluir
[com as ondas do mar
Secar-se ao deserto lógico,
[beber no cacto da evidência
Uma água pouca e espinhosa
Como certas ideias de Baruch Spinoza
Que não se veem à luz de qualquer ciência
É também uma inconsequência
[como o verso acima
Onde, ao rigor da coerência,
[sobrepõe-se a rima
Mas, morrer não é tão fácil ou simples
[como se imagina
Daí, as curvas muitas de seu tortuoso imaginário
A morte repousa em seu próprio relicário
Preciosa e remota
Oculta e presente
E, mormente, é apenas a morte que leva a gente
Por vezes, a morte que leva o outro
Por vezes, uma inclinação dormente
Existe na morte um conforto
Que jamais alcançamos plenamente
Com ele sonhamos
E dele evadimos
Viver e morrer não é algo que se faça impunemente
Há em tudo um preço e um apreço,
[por mais que pobremente
Modos risíveis de matar e morrer
Modos invisíveis de viver.. e agir com alegria