Travessa
o verso que me atravessa
inútil e vão, estulto
recolhido seja tão depressa
quanto as mãos se juntam para o culto
e os recolha, aos versos, à travessa
como fosse o que são — meus frutos
a árvore que envelhece tão depressa
logo verga ao futuro oculto
não há tempo, pois, para o que não tem pressa
senão o tempo de um defunto
o verso que me escapa é uma peça
livre do meu corpo moribundo
recolhê-lo é algo que me alegra à beça
como fosse o tempo o meu caixão profundo