Varrerá o país o vento da inovação solidária
Uma fúria cidadã lançará pelas ruas
Os tímidos, os iletrados da gramática social
Os perplexos, os desavisados das regras de conchavo
No tecido das cidades irromperá a flor do asfalto,
De que falou Drummond
Homens sem partido, exaustos
De vida privada, mulheres exangues
De filhos entre as pernas
Tomarão de assalto improvisadas
Assembléias comunitárias
Para reivindicar a discussão livre de ideias
E as ideias livres de qualquer centralismo
– democrático ou não
Serão mãos novas, novas vozes
Caras inesperadas, rostos inusitados
Nomes bem brasileiros a crescer, de súbito,
No rumor de reuniões, a princípio
Pouco práticas, devido à falta de prática
Para o diálogo e a escuta
Contudo, atabalhoada ou não,
Atrapalhada ou não, essa gente
Vai ganhar as noites
E atravessá-las desperta,
Em discussões infindas, onde o país
Se passa a limpo, no boca a boca
De pequenas considerações essenciais
Línguas dormentes acordarão
Em lábios igualmente cansados,
Gargantas roucas, que vencerão, aos poucos,
Os dedos em riste do velho modelo
Falas macias crescerão na manhã radiosa
Em busca de cinco séculos de consenso
E a dignidade étnica dos humilhados do Brasil
Dará a conhecer ao mundo a generosidade de seu projeto
Que venham os patrões sentar-se à mesa
Os banqueiros, os engravatados, operadores
De pregões, seguradores, usineiros
Não importa
Que venham todos
Tragam sua maldade, tragam sua ruindade
Tragam sua esperteza
Que venham os homens da mala
E seus interlocutores de Harvard
Não importa, se se sentam à mesa da boa-vontade
A algaravia democrática é música em meus ouvidos!
Cidades serão revistas à luz de seu estatuto
Representações relativizadas
Participações intensificadas
E o país entregue à juventude que desperta para o novo século
Os velhos estarão amados
As famílias fortificadas
E a oportunidade, essa noiva dos homens,
Com seu passo meio paulista e meio bahiano,
Com sua ginga meio carioca meio nordestina,
Com sua graça meio gaúcha meio matogrossense,
Com sua energia meio paranaense e meio goiana,
Com sua brejeirice meio amazônica meio capixaba,
Com sua matreirice meio mineira meio catarina,
Com sua persistência meio sertaneja meio litorânea,
A oportunidade, essa menina, desfilará em carro aberto
Pela rua principal de todo bairro ou cidade
De todo vilarejo ou metrópole
Onde dois brasileiros que sejam
Entenderem que é chegada a hora da cooperação