Serei fiel aos meus desejos
Por mais sórdidos que possam parecer
Pois nascem desde as entranhas
E superam aparências por certo
Em sua intenção profunda de vir à luz e
De me revelar a mim
Em minhas inteireza e estranheza a um tempo
Mesmo que muito me custe em auto-aceitação
Serei fiel aos meus instintos
Sem entende-los como baixezas espúrias
A ocultar em trevas
Onde enfiam, por exemplo, os abusos
E perversões outras, impulsos loucos
Sem que se consiga, entretanto
Excluí-los de todo, pois vivem
Ao rés do chão do que é humano
E oscilam permanentemente entre
[céu e inferno
Sem o equilíbrio necessário
Ou a supressão necessária
Para que tais vozes roucas não ecoem
Para além da voz insossa dos dias
Serei fiel aos meus desejos e instintos
Sem entregar-me à sombra
Ou quedar-me, covarde e fraco,
Ao apelo fácil da luxúria
Não.
Quero o desejo e o instinto
Para perscrutar o sentimento de amor
Em meu coração
E auferi-lo à luz destas energias colossais
Forças que me brotam desde as profundezas
Sem perguntas outras senão o gesto
Sem indagações senão o salto certeiro sobre o objeto
[pretendido
Com a fúria mesma de um vulcão ativo
Ou o arrebatamento breve e devastador de um
[tornado
Quero o desejo e o instinto
Como expressões da natureza que subjaz em mim
Sob esse asfalto de adequação,
[flor amassada
E mesmo sob estes canteiros de educação
[em meu jardim
E quero assim para que todo o meu ser se expresse
Sem censura nem exclusão
Como minha fonte única de vida
Razão de ser daquilo que precariamente sou
E que responde por tudo mais que sou
Um homem entre desejos e sentimentos
Pego vezes várias pelo instinto
Com a imaginação à flor da pele
Para reinventar o mundo
Sendo o mundo o modo como
Podemos nos tratar uns aos outros