Catavento
(para papai)
quando estávamos juntos
parecia que tudo impunhas
no fundo, nada impunhas
senão a tua presença
por vezes, alegre e lassa
por vezes, triste e rígida
por vezes, presença ausente
por vezes, ausência presente
teu maior segredo, a naturalidade
diante do fato da morte
inevitável trivialidade
que devora a senzala e a corte
seguias ocupado ao destino
inexorável, inelutável
de deixar de ser menino
e vir a ser o inescrutável
nossos presentes se pareciam
definitivos, obras eternas
da memória do coração
a girar no catavento
de sentimentos, hoje, desvanecidos
eu o queria tão bem
tão bem eu o queria
que querê-lo mais era impossível