(para Tiquinho Santos)
Pessoas como eu
Que vivem de expectativas
Expectativas de que as coisas aconteçam
Que nos bafeje a sorte
Mesmo ao fim da vida
Mesmo depois da morte
Pessoas assim já idas e caídas
Descadeiradas e andadas
Cheias, enfim, de expectativas
Expectativas de que sejam reconhecidas
Tenham, afinal, chances e oportunidades
De provar dos seus talentos e qualidades
Pessoas assim, como eu
Arrisco dizer que ficariam profundamente decepcionadas
Em face de suas expectativas realizadas
E mal saberiam conviver, então
Com esta ausência, a ausência de expectativas
E o vazio de sua consumação
Todas as portas abertas
O sim em lugar do não
Vitórias na rua deserta
Sem empecilhos nem contra-mão
Um expectativo não suportaria
Trocar suas doces fantasias
Pelos apelos de uma nova ilusão
Habituaram-se os expectativos
A viver de sonhos sem chão...