Rezo quando anoitece
Peço milagres para ontem
Rezasse ao amanhecer
E não fossem talvez necessários
Rezo ao ver a ferida
Imploro por sua cicatriz
Rezasse a carne sã
E não houvesse talvez esta mácula
Rezo pela hora da morte
Busco alento na agonia
Rezasse desde o útero
E ainda assim a morte chegaria
[em seu carro reluzente
Mas, eu teria rezado em minha fortaleza
Que é a vida frágil e bela sobre os ombros
E não apanhado em minha fraqueza
Onde grito a Deus por desespero
Agora que tudo é noite
Agora que tudo é ferida
Agora que a morte beija
Eis meus lábios aflitos
Vencida a derradeira evidência
Manifesta a dor do espírito
Consumada a obra
Eis meus lábios aflitos
Em busca de última e confortante prece
Temos todas as manhãs da vida
Para lançar uma gota ínfima
Ao oceano
Nada mudaremos com isso
(Senão os próprios olhos)
O que pode uma lágrima no mar bravio
Senão acrescentar-lhe o sal de sua intenção?