Acostumar-me à sua ausência
Sentir para menos a sua falta
Estraçalha-me tanto, ou tão mais
Do que não tê-la por aqui
Sem as feridas abertas da minha dor,
Que avivam sua lembrança,
Vivificam sua presença na noite escura de meus pobres dias
E sustentam minha tênue memória,
Sou como o espantalho solitário
Ao campo vasto
Cujos abutres do tempo roem-lhe a cabeça oca
Espetam com afiadas garras seu coração vazio
Se me sinto bem, sinto-me atônito!
Atonal, dodecafônico
Melodia modal para um tempo parado
E esses abutres, sei, não vão parar de roer a minha cabeça
Até que eu morra ou a esqueça
Até que meu coração pare ou silencie
Para me fazer ficar ainda mais um pouco
Agora, sem você por perto
Percebo que o espantalho ocupa um campo
Que é aberto
E precisa inventar com os olhos
As flores extintas de seu deserto...