O peito opresso
Os olhos baços
A alegria extinta como a chama última
Ainda não sou capaz de me entender
Sem a presença da minha filha
Nunca o seja, talvez
Vivo de sua ausência
No vácuo que sob meus pés se abriu
À sua morte, brutal e súbita
É sua ausência minha razão de viver, agora
Dela fugir
A ela mitigar
Por momentos, esquecer
Não distraidamente, que não mais me distraio nem divirto
Apenas que ocupo a mente a enganá-la
Até a próxima lembrança que me vem do hábito
(Recordações da felicidade prosaica
E suas aporrinhações contumazes)
O silêncio de sua voz
A falta absurda de sua presença
Restou-me, persistente, o seu cheiro em seu quarto
(Que não ouso desmontar, ainda)
Aspiro lufadas de ar à luz de seus retratos
A fim de respirar os restos de sua atmosfera
Alguém alegre e empolgante
Feliz, que mal conheceu a dor
(Palavras suas)
E que me enchia de esperanças quanto ao amor
O quanto nos reforma
O quanto nos reinventa
Sigo no rasto de sua ausência
Literalmente, sem saber o que fazer de mim...