Dizes-me que teu filho não te ama
Que não te respeitas
E eu te pergunto:
E tu, me amas e respeitas?
Dizes-me que abandonaste teu filho quando pequeno
Para encontrar-te a ti
Que vais perdido pelo mundo
E eu te pergunto:
Quando foi que te abandonei?
Dizes-me que teu filho te rejeita
Que te é indiferente às dores e aos teus descaminhos
E eu te pergunto:
Quando foi que te rejeitei
Ou às tuas dores te fui indiferente?
E igualmente a mim
Ages como o teu filho a ti:
Esqueces-me do teu afeto
Abandonas-me no recôndito do coração
Rejeitas-me os conselhos de retidão
Mostra-te indiferente ao meu pesar por teus descaminhos...
Não será tempo
De abraçares teu filho
Com o mesmo imenso carinho em meu seio reservado
Às gloriosas revelações que o egoísmo empana e o orgulho tolda?
Quão exausto te vejo!
Quão ferido e sobrecarregado
Em teu torvelinho de perguntas
Que remoinham em torno de si próprio
Ciclópico desespero!
Atordoantes inquietações!
Não haveria, por acaso, uma resposta simples
A oferecer a todas as dúvidas
Que encerrasse em si uma verdade elementar,
A de que devemos ao outro as lisonjas todas
Que gostaríamos por ventura dirigisse a nós mesmos?