Todos os dias, em silêncio
Revivo a hora em que deixaste este mundo
A natureza sempre se me parece triste, ao horário
Seja pelos últimos clarões do sol nas nuvens róseas
Em um céu azul esmaecido
Seja pelo plúmbeo dos dias nublados
Que a noite chama ao seu colo
O fato é que há uma quietude no entardecer
Que associo ao teu desenlace
Hora grave
Hora funda
Meu peito afunda
O chão (uma vez mais) se abre
E o sabor de tua ausência,
Amargo fel de reminiscência
Desce em seco
Marejam os olhos
Foge o ar
De novo, o elevador na barriga
É uma forma, creio, de não me conformar
Com a tua partida
Uma luta de morte contra o tempo e seu rio do esquecimento
É também uma decisão íntima de permanecer próximo
Da dor de tua perda
Arre, arautos da resignação!
Xô, coveiros da angústia!
Inimigos públicos número um da melancolia
Vade retro todos!
São as dores que nos iluminam
Muito mais que a alegria
E eu que vivo em sombras
Por que as recusaria?