(para Manuel Bandeira)
Oh, Lord!
O que me reservas
É tão grande que me excede de todo
Ou mínimo tanto que não consigo sequer apanhar com a mão?
Oh, Lord!
O destino em que me vês
Está grudado nas estrelas mais longínquas
Ou fincado na mais ínfima partícula no interior do átomo?
Oh, Lord!
O que esperas de mim:
Que o reverencie com cômica irreverência
Ou que o honre com severas homenagens?
Oh, Lord!
Dize de uma vez por todas a tua vontade
Para que a ela me curve com essencial humildade
Estou farto desta morte persistente
A perseguir-me os calcanhares
Oh, Lord!
Conceda-me saber apenas
Para o que me fizeste
E eu porei em marcha por fim
A obra de uma vida
Para ofertá-la a ti no dia de minha morte
E dizer-te, então
Oh, Lord!
Aqui está o trabalho de um homem mais ou menos livre
Pleno porém de respeito e gratidão
Se for o riso o meu destino
Dá-me o choro por consolo
Se forem as lágrimas o meu ofício
Dá-me a gargalhada por vício
Para que assim se equilibrem em mim
Ambas as faces da verdade
A que ri e a que chora
Para que chegada a minha hora derradeira
Eu devolva a ti o grão de minha humanidade
E a estrela imensa de uma vida inteira