12 de março de 2024 às 00:00
Flor à sombra do abismo
irrompe como desejo
permanece como aflição
e das mãos escapa
como fruto proibido
como vento que solapa
o espinheiro perdido
entre falésias, escarpas
de um rochedo concebido
à luz da arrebentação
vem o mar e seu rugido
estapea-lhe os sentidos
cobre-lhe o corpo de sal
vem o sol calcinante
em sua sina delirante
beija-o e depois esturrica
seca, resseca, estica
o que desperta como flor
à sombra do alto abismo
vem, após, o estupor, o extertor
o desatino, o rumor dos destinos
salta-lhe das fundas entranhas
caminha como a aranha
enrondilhada na teia
nas águas, avista a sereia
nos céus, contempla a estrela
a dor lhe dobra a costela
e desdobra a certeza
este amor é uma esmola
que o esfola na cerca
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