20 de março de 2024 às 00:00
Lembrança e dor

Ando agarrado à minha dor
Como se ela fosse a sua lembrança
Sei que não é

Sua lembrança é o amor, este que vive para sempre
Imortal e puro
Intocável e eterno
O amor que faz do silêncio a palavra perfeita
De sentimento pleno em sua quietude cósmica
Inalcançável e tangível a um tempo
Dentro e fora do tempo
Como vivem os mortos que em nós vivem
E os vivos que nos seus mortos repousam
Até que nos abracemos todos no amor essencial
Partícula primeira de que é feito o Universo,
A casa de um Deus supremo
Que se nos aparece, sub-reptício e galhofeiro,
    [por obras perfeitas e imperfeitas
Invisibilidade nítida
Aparência desaparecida
Solidão infinita
Compaixão inaudita

A minha dor é a minha vida que se perdeu
Sem a presença física de seu amor
(e implicância... rs... Nós dois tão parecidos nisso...)
Minha dor é a falta daquele
O meu pai...
O meu pai!
O meu pai?!
De boca cheia
Dito aos quatro ventos
Para que sobre mim
Soprasse a brisa suave da esperança
(Se essa garota me ama assim
Quem sabe um dia não sinto o mesmo por mim?)

O amor da vida dele sou eu...
Seus olhos sorriam, a declarar um segredo público

E agora, este amor se foi para o mais alto
Já não me critica
Já não me contesta
Já não briga comigo à sala e, em seguida, me beija ao quarto
Já não chega de manhã a casa
Já não me justifica a vida perdida por delicadeza...

Minha dor sou eu
Meus crimes, erros, fracassos
Uma vida de equívocos entre vontade e subsistência
Sua lembrança nada tem a ver com esta dor
Sua lembrança é agua e luz
Amigos risos festas
Nos amamos todos em sua presença tão vívida aos corações
Uma sabedoria calada que surpreendia sempre minha ignorância rotunda
Sua lembrança é você!
Seus olhos
Seu sorriso
Reticente aos próprios talentos
Avessa a injustiças
Ousada e tímida
Infantil e madura
Generosa e possessiva
A planejar um meio de ajudar as crianças,
Sempre as crianças em seus planos de adulta
         (ou os psicopatas! hahaha)

Minha dor
São estes lenços cheios de sal
Como se guardassem o mar os meus olhos cansados
(Cansados de mim, jamais de chorar por você)
É a essa dor a que me agarro
A poesia
O cigarro
A melancolia
Enquanto não me respondo, convincentemente
Porque continuar a viver... e como
Cadê você, filha?
Foi-se o oceano
Ficou a ilha...

 

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