11 de maio de 2024 às 00:00
Certas ideias de Baruch Spinoza

 

 

É difícil aceitar que somos nosso próprio insucesso

Inclusive, por coisas que nos excedem

E que nada podemos fazer

              (nada é duro como o ferro essencial das estrelas)

Senão aceitar que nada podemos fazer

E, ao aceitá-lo, fazemos tudo que podemos

 

É difícil acreditar que também queremos morrer

Tanto quanto viver

              (ou mais!)

E que, ao viver, de fato, morremos

Estamos presos, mesmo livres

E mesmo presos, algo em liberdade sobrevive

Morrer é também não viver

Recusar o movimento, imobilizar-se

Inerte, estático diante dos problemas da vida

Morrer é também um sentimento de desistir

Uma desistência, uma resistência a fluir

               [com as ondas do mar

Secar-se ao deserto lógico,

               [beber no cacto da evidência

Uma água pouca e espinhosa

Como certas ideias de Baruch Spinoza

Que não se veem à luz de qualquer ciência

É também uma inconsequência

               [como o verso acima

Onde, ao rigor da coerência,

               [sobrepõe-se a rima

Mas, morrer não é tão fácil ou simples

               [como se imagina

Daí, as curvas muitas de seu tortuoso imaginário

A morte repousa em seu próprio relicário

Preciosa e remota

Oculta e presente

E, mormente, é apenas a morte que leva a gente

Por vezes, a morte que leva o outro

Por vezes, uma inclinação dormente

Existe na morte um conforto

Que jamais alcançamos plenamente

Com ele sonhamos

E dele evadimos

Viver e morrer não é algo que se faça impunemente

Há em tudo um preço e um apreço,

              [por mais que pobremente

Modos risíveis de matar e morrer

Modos invisíveis de viver.. e agir com alegria

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