18 de maio de 2024 às 00:00
Os escalpos do Cristo
Não corro
Parado ao meio do pátio
À espera de ser abatido
Enquanto grita a sirene
Já não tenho por mim
Aquela admiração essencial
Que leva um homem
A suportar-se ao espelho
Não vejo razão para isto
Aguardo apenas que disparem
A qualquer momento
A misericórdia de um tiro
No pátio somos todos iguais
Perante a mira incomum
Logo seremos mortos e esquecidos
Nada mais faz sentido
Nada mais tem valor
Rege-nos o acaso
O fortuito
A gratuidade do Mal
Acuamos Deus para a cerca
Ali o socamos aos chutes e pontapés
Não há porque ser feliz ou fazer o bem
Somos maus e há enorme prazer nisto
Trocou-se a coroa de espinhos
Pelos escalpos do Cristo