08 de junho de 2024 às 00:00
A noite dos instintos

(para Simone)

 

Chama-te a noite dos instintos
Uma lua no céu, ilumina em grãos a nudez iminente de teu corpo
Falta-me fôlego a contemplar a cena, estremeço, estrebucho, tenho engulhos
Só de imaginar que chegou a hora tua e que esta lua, como ao poeta,
Deixa-te comovida feito o diabo
Vem-te das entranhas o chamamento, caldeiras de humores em chamas
Vem de teu rapaz o apelo e ambos sonham com a pureza de seus sentimentos
Sua inocência essencial
Agora, deixarão para trás o portal do paraíso, é sempre isso
Sempre que nos chega esta hora
A candura, a ternura cedem terreno a voluptuosidade
Descem garganta abaixo, goles secos, sede seca, boca úmida
Lábios crescem, igualmente todos os lábios
É a pura flor do sexo que te desabrocha à raiz das coxas
Vais ser mulher, ó filha?!
Vais romper o véu, adentrar este mundo pelas pernas
Vais nadar na fonte da vida, seu mistério, seu engano?
Vais; e o que te pode impedir?
Nada!
Chama-te a noite dos instintos
E ela, bailarina, tentará obter de ti a única coisa que de ti espera
Vai tentá-la com ofertas várias, braceletes, anéis, espelho e pente
Vai surtir efeito, é impossível que não, e é o mais natural
É preciso apenas que saibas que o amor é da carne a ilusão
Não há como fugir, senão ao preço de renegá-lo, o que é estúpido,
   [ ainda mais que o cupido, e não vale a pena...
Vá, vivas o teu poema
Sede toda nova a partir de amanhã
Aos poucos, corre-te para fora a menina
Já vem na aurora a carne lânguida e o desejo por fim arrefecido
Estremeço, e em troca da criança que perdi
Exijo-te, apenas, por medida e lei:
Não aceites da vida e do homem
Nada a menos que te dei.

Daqui para cima,
É o céu que te ensina o que pode
E o que não pode, eu já não sei...

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