25 de junho de 2024 às 00:00
Bela dona

Por vezes te sinto tão perto
Como se tua mão, fugida do braço
Viesse acariciar meu peito nu, perdido na noite
E eu não entendo bem porque
Esse ir e vir
Esse dizer sem palavras:
Quero provar teu magma
Romper teu oceano
Afogar em beijos a tua boca

Tonto, desorientado
          — como sempre, desorientado
Reinicio um raciocínio
Que explique a mim teu exercício
De esconder-se e mostrar-se
Ocultar-se e entrever-se
De um modo difícil de alcançar
Para uma mente simples
Como a simples mente dos homens
Que pulsa entre suas pernas
Eu sequer a desejei um dia!
É preciso registrar
Eu sequer compreendi o grito de silêncio
Com que respondeste ao meu apelo por contato
De modo que não entendo!
Não entendo esta mão que se solta
Para enlaçar meu corpo
Enfeixá-lo em seu persistente desejo
Quando tudo que eu tinha a dizer
Foi posto fora - sem palavras
O que é o mais habitual nos correntes dias...

Meu coração obsoleto
Lamenta a cantiga
Que vem de teus murmúrios
Não posso compreendê-la
Nem emudecê-los
Me são estranhos
E me expulsam de mim mesmo
Se os pespego no ar, a cantiga e os murmúrios
A caminho de meu peito nu
Com a ingenuidade típica das setas envenenadas
Com a descontração distraída
De palavras que torturam
Um mundo secreto entre nós se abre
E por nós seria habitado
Se tu não te tivesses ausentado
Do medo possível de nosso encontro
Hoje, quem não compreende o sentido de tudo sou eu
O deus mendigo com suas pobres palavras
Caídas por terra
Caiadas, inúteis
Não sei o que responder
A esta boca pedinte que me olha
Que sonhos me ofereces
Para recobrir a realidade
Que fantasias anseias
Para tua pele?
Tudo que recusaste
Por nada
Nada que quiseste
De mim
E no entanto tuas mãos voam
Para fora de teus braços
Com volúpia extrema
À roda de meus ombros
Intrigante afeição entre estranhos
Pronta a romper a seda suave
De uma alcova rosa-chá
Entregue ao martírio do delírio
Eu não sei o que houve
Ou que possa ter sido
Todavia, persistente
Sinto teu bafo na nuca
Sopras à minha orelha
Segredas-me carícias
Com o vento de teu hálito
Insistes, insistes
Sem estar por perto
Danças, bailas, saltas

Em sombras sob o sol
Miúra, pantera, pintada
Rondas, assaltas, rodeias-me
E eu aponto para o leito com o dedo indicador
Deita-te, digo
Dispa-te, repito
Enquanto cresço em nervo e sangue
Sobre tuas expectativas
Respira, assim, respira
Arfa sob mim
Enquanto, suave, vem a noite
Aceita o teu desejo
Beija teu medo
Cerra os olhos
Vou levar-te ao céus
Alçar-te ao infinito!
Para derretermos juntos as nossas asas...

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