30 de junho de 2024 às 00:00
Bólido
bato de frente
para todo lado
bato de costas
bato de lado
sou um bólido
desgovernado
parece, movido
a atrito, serei
rubi a ser polido
ou diamante gastado?
bato de frente
para todo lado
bato de costas
bato de lado
à direita e à esquerda
para cima e para baixo
a orelha queimando
do disse-me-disse
cumprimento evitado
arestas, senões calados
reprovações, sandices
tudo que pode o vulgo
quando um pouco estimulado
não se dê motivo aos touros
nem ao fraco o seu regalo
decerto virão as pedras
e com elas as pedradas
julgam rapidamente
os que não se apressam
em ser justos, bastam-lhes
meias-palavras, impressões
talvez de visagem
mas, rapidamente, como agem!
e reagem!
com facilidade condenam
mesmo que lhes falte a coragem
para proferir a sentença
bato de frente
para todo lado
bato de costas
bato de lado
resulto, então, isolado
às vezes, um pouco puto
mas, nunca chateado
é normal! é normal
chocar-se ao que nos deixa
                        [chocados
e choca-me o fel da inveja
choca-me o vinagre do ódio
choca-me o véu do ciúme
choca-me o acordo fechado
sejamos todos cretinos
e estamos conversados!
acusemos os argentinos
os franceses, os ingleses
mas, calemos o passado
de nossos vis interesses
bato de frente
para todo lado
bato de costas
bato de lado
sou um bólido
desgovernado
que ao se ser
simplesmente
já se está errado
que fazer?
bater! bater de frente
que fazer?
bater! bater de lado
bater com todos os costados
até que mude a batida
ou mude a vida
ou eu mude de medida
sem ceder à tentativa
de calar sem ter falado
bato de frente
para todo lado
bato de costas
bato de lado
vão-se os dedos, os anéis
dos homens ficam seus pincéis
e as cores que no mundo pintaram
depois, se deitam no chão, e vão
pela mão alheia de volta
ao nada comum de nós todos
com ou sem consolo
se bajularam, se traíram
se corromperam, ou corrompidos
se tremeram, se se cagaram
se temeram por seus filhos
e se assim o conseguiram
seus quinhões abençoados
nada disso faz sentido
pois se a vida continua
não o é por ter perdido
perde a vida toda vez
que aborta o prometido
projetar-se sempre à frente
como a sombra iminente
do que não se quer vencido...
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