04 de julho de 2024 às 00:00
Razão & esquecimento
vivo do que não existe:
esperanças passadas
lembranças entrevadas
sentimentos que já não funcionam
alimento com este óleo velho
o motor de minhas emoções
como fosse possível
renascer das trevas
o corpo para sempre encerrado
como viesse do pó
a vida de todo ausente
sonho renascimentos
espero por arrependimentos
(gente que me maltratou em vão, por exemplo)
creio no furor do remorso
e a remissão pela culpa
em suma, vou embrulhado em mortalhas
enquanto a vida, com seu mel, escapa-me dos lábios,
fruição aleatória, desejo indeterminado...
apego-me aos meus apegos:
gente que julguei melhor do que na verdade era
feições que melhorei com o cinzel do afeto
tudo bobagem, desperdício interno bruto
eu me canso de mentir a mim
e aceito a natureza humana
como sendo a broa aos farelos
no balcão de vidro da padaria
esqueço, esqueço
recordo-me, apenas,
da necessidade imperiosa
de esquecer, esquecer tudo
as melhores lembranças
as piores esperanças,
que são justamente aquelas
sem qualquer chance de acontecer
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