11 de outubro de 2024 às 00:00
Prece diária

Rezo quando anoitece
Peço milagres para ontem
Rezasse ao amanhecer
E não fossem talvez necessários

Rezo ao ver a ferida
Imploro por sua cicatriz
Rezasse a carne sã
E não houvesse talvez esta mácula

Rezo pela hora da morte
Busco alento na agonia
Rezasse desde o útero
E ainda assim a morte chegaria
                    [em seu carro reluzente


Mas, eu teria rezado em minha fortaleza
Que é a vida frágil e bela sobre os ombros
E não apanhado em minha fraqueza
Onde grito a Deus por desespero

Agora que tudo é noite
Agora que tudo é ferida
Agora que a morte beija
Eis meus lábios aflitos
Vencida a derradeira evidência
Manifesta a dor do espírito
Consumada a obra
Eis meus lábios aflitos
Em busca de última e confortante prece

Temos todas as manhãs da vida
Para lançar uma gota ínfima
Ao oceano
Nada mudaremos com isso
(Senão os próprios olhos)
O que pode uma lágrima no mar bravio
Senão acrescentar-lhe o sal de sua intenção?

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