Avenida de Mayo
Ao chegar e ao sair do Café Torttoni, nos arredores da Casa Rosada, na avenida de Mayo, passamos por festejos de rua, patrocinados naturalmente por el gobierno, dedicados à Espanha, onde se ouvia uma canção exaltada, ainda muito próxima do canto lírico e da ópera, embora de natureza regional ou mesmo folclórica, com toda aquela carga dramática que identifica os povos da America Latina como um todo e que nos diferencia a nós, brasileiros, grandemente dos demais, não obstante também tenhamos os nossos dós de boca. Todavia, somos menos grandiloqüentes a essa altura da vida nacional. Hoje, entre nós, acho que só mesmo a moda caipira, em alguns formatos de apelo popular, ainda investe tanto nos trinados dos seus cantores. João Gilberto, definitivamente, baixou a nossa bola...
As barraquinhas e a camelotagem em tudo aproximam todas as nações do continente, creio, o que fazia uma diferença ali, para mim, na calle aberta apenas ao pedestre, era a sensação de segurança e tranquilidade, poucos moradores de rua e apenas um ou outro pedinte de aparência ébria ou louca chamaram a minha atenção.
Não se trata, todavia, de uma população abastada e próspera, essa que freqüenta as ruas, vê-se nas fisionomias as mazelas da economia, muita gente fumando com olhos perdidos no nada, certo ar de derrota, uma velhice sobre a qual se acumulam dores que nada têm a ver com velhice, porém, ainda assim, vê-se firme uma civilidade que permanece às intempéries, há uma certa altivez no povo portenho, pude reparar, e foram todos de uma maneira geral muito simpáticos no trato conosco. Creio que a palavra chave ali é mesmo cultura. |
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